quarta-feira, 14 de maio de 2014

Necessidade de intensificação na produção de bovinos de corte

A população mundial cresce exponencialmente. Em contrapartida, a área para a produção de alimentos de origem animal, como a carne bovina, é cada vez menor. O Brasil passará de 181,7 milhões de hectares (ha) de pastagens em 2011 para 176,3 milhões em 2022, perdendo então 2,97% de área de pastagens. Já as lavouras crescerão de 48,6 milhões de ha em 2011 para 58,5 milhões de ha em 2022, um incremento de 20,37% (Outlook Brasil 2022). Apesar dessa perda de área para agricultura, existe uma previsão para que as exportações de carne bovina tenham um crescimento anual de 4,3% de 2012 a 2022.
Além disso, o novo código florestal determina que os produtores adequem suas propriedades a algumas exigências, como a recomposição de áreas desmatadas com espécies nativas de acordo com o bioma, o que reduzirá ainda mais as áreas efetivas de pastagem da pecuária.
Na contramão desses fatos, o Brasil sempre apresentou uma característica extrativista e extensiva, com baixos índices de produtividade. A alternativa que resta aos produtores é a intensificação, que não deve mais ser encarada como um mito pelos produtores, e sim como uma realidade que pode elevar a rentabilidade de seu negócio.
Pode-se definir intensificação como a racionalização do uso dos recursos limitantes no processo de produção. Ou seja, seria a aplicação de técnicas de forma a utilizar todos os recursos ligados à produção da melhor forma possível, maximizando o resultado financeiro do produtor por meio de aumento da produtividade (@ produzidas/ ha/ ano).
É importante deixar claro que não existe receita certa a seguir, ou sistema de produção ideal, pois cada propriedade e cada região possuem suas particularidades que devem ser levadas em consideração no processo de intensificação. No entanto, alguns fatores importantes devem ser ressaltados e valem para todos os que pretendem intensificar sua produção.
O fator humano é um ponto chave da intensificação. O proprietário deve ser ter um elevado nível de envolvimento com o sistema de produção, ou ter uma pessoa de confiança que assuma tal papel com autonomia e excelência. Os funcionários devem ser treinados para essa nova forma de produção. Se for possível, antes da implantação é interessante levá-los a uma propriedade que já trabalha com manejo semelhante ao proposto. Isso ajuda a criar referência e a entender melhor os reais objetivos da intensificação.
A localização da propriedade também é um ponto importante, pois a compra de insumos e a venda de produtos apresentam alta correlação com o resultado financeiro. É necessário realizar um estudo que liste os principais insumos que serão utilizados na propriedade para, a partir daí, levantar a distância das principais empresas que realizam a comercialização destes produtos, além dos possíveis clientes. Todas essas informações servirão como base para uma negociação bem feita, reduzindo o custo de produção, melhorando as vendas e aumentando a margem de lucro do produtor.
O pastejo deve permitir a maximização da produção animal sem prejudicar em nenhum aspecto as plantas forrageiras. Ao pensar em intensificar a produção, as divisões de pastagens devem ser o primeiro passo observado na propriedade, pois tem o intuito de maximizar o aproveitamento das forragens. Para que seja feito um correto trabalho de redimensionamento da fazenda é muito interessante que se tenha os mapas. Através dos mapas é possível inserir os pontos de divisão atrelados à água e cocho, além de se obter a real dimensão da propriedade e consequentemente do valor a ser investido e seu potencial de produção.
A suplementação é outra importante ferramenta de intensificação. O objetivo dela é melhorar a conversão alimentar de animais em pastagens, encurtar ciclos reprodutivos, reduzir ciclos de crescimento e engorda e aumentar a capacidade suporte dos sistemas produtivos. Isso aumenta a eficiência de utilização das pastagens e supre a deficiência de nutrientes encontradas nelas nas diferentes épocas do ano, assim gerando um incremento na produtividade (@ produzidas / ha / ano). Essa prática deve estar alinhada a uma meta estabelecida de produção, ao fluxo de caixa da propriedade, ao clima regional, para então analisar-se a viabilidade econômica e definir qual o nível de suplementação, período e categorias que irão receber.
O confinamento estratégico caracteriza-se como outro instrumento de intensificação em pecuária de corte. Tem se tornado um ótimo casamento com os sistemas de produção intensificados a pasto, pois proporciona diminuição drástica na taxa de lotação da fazenda no período seco, retirando os animais a serem terminados e permitindo a entrada da reposição, além de proporcionar vantagens já conhecidas, como elevados valores de ganho de peso em curto período, carcaças melhor acabadas, melhor rendimento de carcaça 
, venda de animais acabados durante a entressafra do boi, giro do capital mais rápido devido ao encurtamento do ciclo de produção e maior produção de @/ha/ ano.


Porém, é importante analisar os custos de investimento com instalações, máquinas e os custos elevados com ração concentrada e volumoso servidos no cocho, mão de obra específica e disponibilidade de insumos na região.
Sugere-se que na intensificação de sistemas de gado de corte, a propriedade inicie em uma pequena área (aproximadamente 20% do tamanho total). Essa área servirá de aprendizado para todos os envolvidos no processo. A área deve ser preferencialmente a melhor área da propriedade, a fim de reduzir custos com correção e adubação no primeiro ano. Nos anos que seguem o processo de intensificação, será implantado em toda a propriedade, porém o nível de crescimento estará atrelado à capacidade de investimento do produtor, podendo ser completa já no segundo ano ou crescente de acordo com seu fluxo de caixa e geração de renda com o próprio sistema.
Vitoriano Dornas

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