O último texto que eu escrevi para o blog abordou a
questão da integração da cadeia produtiva da bovinocultura e no final tocou
sutilmente no assunto de alianças mercadológicas. A forma sutil deve-se ao fato
de que não caberia naquele momento um aprofundamento do tema já que ele pode
ser trabalhado num texto específico como será feito agora. Abordaremos porém,
as alianças estratégicas de uma forma ampla.
As Alianças Estratégicas, enquanto arranjos
organizacionais estruturados e formais começam a ser motivo de estudo a partir
da década de 70.De lá para os nossos dias atuais, segunda década do século XXI,
muitas mudanças sociais e econômicas aconteceram, exigindo das organizações
maior eficiência.
Um público mais exigente, uma concorrência mais
acirrada, tecnologias inovadoras disponíveis no mercado a cada segundo,
recursos naturais em escassez dentre outras mudanças drásticas exigiram
mudanças organizacionais relevantes e quebra de alguns paradigmas para que as
organizações se adaptassem ao novo sistema. Tudo isso aconteceu também para a
pecuária de corte.
Os autores teóricos apresentam muitas soluções
estratégicas para se alcançar a tal da eficiência. Alguns apontam no sentido das
organizações buscarem maior eficiência através de redes organizacionais que são
mais conhecidas por: alianças estratégicas, joint
ventures, terceirização, subcontratação, consórcios, redes de cooperação,
clusters etc.
As redes são definidas portanto como “grupo de
organizações com interesses comuns, que se unem para a melhoria da
competitividade de um determinado setor ou segmento e cooperam entre si”. É
fundamental que elas mantenham a sua independência e autonomia e estejam
ligadas a quatro objetivos estratégicos:
a) vantagens
baseadas na busca de complementariedade, como, por exemplo, aumentar a
penetração em novos mercados ou ampliação dos mercados atuais,
b) criação de poder de compra, por exemplo, em
acordos de redução de custos de suprimentos ou de aumento de poder de mercado,
em função do peso econômico, da imagem e da reputação;
c) ampliação de base técnica, como atividades de
pesquisa e Desenvolvimento;
d) ampliação dos conhecimentos: redes de cooperação
podem, através de aprendizagem coletiva, gerar os conhecimentos e as
informações necessárias a cada membro (Jeronimo, 2005).
A
principal característica de uma aliança é a independência das empresas
envolvidas na parceria. As alianças permitem às empresas compartilhar recursos
para atingir um objetivo comum sem, contudo, abrir mão de sua autonomia
estratégica e de interesses específicos (Dussauge e Garrette,1999). Assim as
alianças são formas de obtenção de vantagens de custo ou de diferenciação dos
elos verticais, sem a imobilização de capital em integração vertical ; no
entanto, no caso das alianças estratégicas surgem dificuldades de coordenação
entre empresas puramente independentes.
No
quadro abaixo pode-se observar as formas possíveis de cooperação entre as
empresas no sentido de melhorar a eficiência global.
Quadro
1: Formas de cooperação em modelos de
redes organizacionais
Categoria
das Inter-relações
|
Fontes
de inter-relação
|
Formas
possíveis de cooperação
|
AQUISIÇÃO
|
Insumos
adquiridos
|
|
TECNOLOGIA
|
·
Tecnologia
comum dos produtos
·
Tecnologia
comum dos processos
·
Tecnologia
comum em outras atividades de valor
|
·
Desenvolvimento
conjunto de tecnologia
·Projeto
de interface conjunto
|
INFRAESTRUTURA
|
· Necessidades comuns de infra estrutura da empresa
·
Capital
comum
|
· Levantamento
compartilhado de capital (Financiamento)
· Contabilidade
compartilhada
· Assessoria
jurídica compartilhada
· Relações
com o governo compartilhadas
· Contratação
e treinamento compartilhados
|
PRODUÇÃO
|
·
Localização
comum de matérias-primas
·
Necessidades comuns de suporte de fábrica.
|
·
Logística
interna compartilhada
·
Atividades
indiretas de produção compartilhadas.
|
MERCADO
|
·
Comprador
comum
·
Canal
de compras comum
·
Mercado
geográfico comum
|
·
Marca
registrada compartilhada
·
Venda
cruzada de produtos
·
Pacote de vendas
·
Departamento
de marketing compartilhado
·
Rede
compartilhada de serviço/suporte
|
FONTE:
Porter 1989
Alguns modelos de alianças
estratégicas podem ser considerados de sucesso, nos quais as partes conseguiram
melhorar sua eficiência econômica, alcançando mercados maiores e mais distantes
como por exemplo:
1.
Fazenda
Santa Fé em Goiás
Confina 19000 bois/ano.
Para garantir a qualidade dos
animais que adquire para recria e engorda foi obrigada a formar parcerias com
criadores.
As regras foram estabelecidas de
forma a dar níveis de garantias equivalentes a ambos os lados.
2.
Guarapuava –
Paraná
Aliança entre produtores do
município com frigoríficos e redes de varejo.
18 produtores unidos conseguem
fornecer de forma direta aos frigoríficos com uma frequência maior do que
quando individualmente e os frigoríficos atendem satisfatoriamente a rede de
varejo
Esses casos não são acompanhados
pela Gepecorte e os dados foram fornecidos por outros parceiros. Pode-se
determinar portanto e sem dúvida, que as alianças são possíveis e podem ser uma
solução para pequenos e médios produtores conseguirem resultados melhores para
seus empreendimentos.
Adriana Calmon de Brito Pedreira
MSc.
em Administração Estratégica
Fontes:
BRAGA, Marcelo. Redes, alianças
estratégicas e intercooperação: o caso da cadeia produtiva de carne bovina. UFV
2008
CAMPEÃO, Patricia; SPROESSES,
Renato Luiz; VELASQUES, Murilo; MARQUES, Heitor . Alianças estratégicas em
bovinocultura de corte. XXVI ENEGEP. Fortaleza 2006
JERONIMO, F.B. A confiança em redes: a experiência de uma rede formada por sete
cooperativas do setor agroalimentar no Rio Grande do Sul. 173f. 2005.
Dissertação (Mestrado) - CEPAN/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre.
PORTER,
M.E. Estratégia competitiva:
técnicas para a análise de indústrias e da concorrência. Tradução de Elizabeth
Maria de Pinho Braga