quinta-feira, 5 de novembro de 2015
terça-feira, 3 de novembro de 2015
Segunda etapa de vacinação contra aftosa vai até dia 30 deste mês
A segunda etapa de vacinação contra a febre aftosa 2015 começou neste domingo (1º) e vai até o dia 30 de novembro em toda a Bahia. Cerca de 4.208.456 bovinos e bubalinos com idade até 24 meses precisam ser vacinados.
A meta da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), vinculada à Secretaria Estadual da Agricultura (Seagri), é ampliar cada vez mais a cobertura vacinal, mantendo a imunidade elevada do maior rebanho do nordeste, pois embora o Estado esteja livre da doença, sempre existe o risco da reintrodução da febre aftosa.
Nesta etapa, cerca de 6,5 milhões das 10.521.140 cabeças com idade superior a 24 meses ficam isentas de serem vacinadas. Isso representa uma redução direta da ordem de mais de R$ 15 milhões para os criadores nos custos de produção.
No prazo de 15 dias após a aplicação da vacina, os criadores devem comparecer nas unidades da Adab, munidos da nota fiscal de compra, para declarar todo o rebanho de bovinos e bubalinos, por sexo e faixa etária.
Os produtores que não possuem animais nesta faixa etária (isentos da vacinação), também estão obrigados a declarar e atualizar todo o seu rebanho bovídeo, incluindo as outras espécies (caprinos, ovinos, equídeos, aves, peixes, entre outras que estejam criando), evitando desta maneira sanções administrativas previstas em lei.
Para o coordenador do Programa de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa da Adab, Antônio Maia, apesar da Bahia ser certificada internacionalmente como Livre de Febre Aftosa com Vacinação, desde o ano 2001, os criadores não podem baixar a guarda. "O risco de reintrodução da doença ainda existe, embora pequeno e devidamente monitorado pela Adab e pelo Ministério da Agricultura (Mapa), vacinando seu rebanho conforme calendário oficial".
O diretor de Defesa Sanitária Animal da Adab, Rui Leal, afirma que esta é uma ação compartilhada entre o setor produtivo (através da aquisição e aplicação da vacina) e o setor oficial (normatizando, realizando o cadastro do produtor, efetuando a vigilância, a fiscalização e a abertura de novos mercados). Desta maneira, a Adab trabalha por meio de políticas públicas para assegurar proteção mínima ao agronegócio e à economia baiana.
O diretor geral da Agência, Oziel Oliveira, ressalta que o retorno da doença seria catastrófico para a Bahia e para o País, derrubando os preços da arroba do boi, do leite e das demais atividades agropecuárias, gerando desemprego, além de bloquear o comércio interno e externo, não apenas de animais e produtos de origem animal, mas também da produção agrícola do Estado. Oziel Oliveira afirma que “a Bahia teve o último foco de aftosa em 1997, e não podemos deixar que ocorra novamente. É imprescindível que todos os produtores vacinem seus bovinos e bubalinos nesta faixa etária e declare em uma das unidades da Adab, sem deixar para a última hora, o que evita também alguns transtornos nos escritórios da Agência.”
Ascom/Adab,
Agência de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB
A meta da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), vinculada à Secretaria Estadual da Agricultura (Seagri), é ampliar cada vez mais a cobertura vacinal, mantendo a imunidade elevada do maior rebanho do nordeste, pois embora o Estado esteja livre da doença, sempre existe o risco da reintrodução da febre aftosa.
Nesta etapa, cerca de 6,5 milhões das 10.521.140 cabeças com idade superior a 24 meses ficam isentas de serem vacinadas. Isso representa uma redução direta da ordem de mais de R$ 15 milhões para os criadores nos custos de produção.
Só devem ser vacinados animais até 24 mm |
Os produtores que não possuem animais nesta faixa etária (isentos da vacinação), também estão obrigados a declarar e atualizar todo o seu rebanho bovídeo, incluindo as outras espécies (caprinos, ovinos, equídeos, aves, peixes, entre outras que estejam criando), evitando desta maneira sanções administrativas previstas em lei.
Para o coordenador do Programa de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa da Adab, Antônio Maia, apesar da Bahia ser certificada internacionalmente como Livre de Febre Aftosa com Vacinação, desde o ano 2001, os criadores não podem baixar a guarda. "O risco de reintrodução da doença ainda existe, embora pequeno e devidamente monitorado pela Adab e pelo Ministério da Agricultura (Mapa), vacinando seu rebanho conforme calendário oficial".
O diretor de Defesa Sanitária Animal da Adab, Rui Leal, afirma que esta é uma ação compartilhada entre o setor produtivo (através da aquisição e aplicação da vacina) e o setor oficial (normatizando, realizando o cadastro do produtor, efetuando a vigilância, a fiscalização e a abertura de novos mercados). Desta maneira, a Adab trabalha por meio de políticas públicas para assegurar proteção mínima ao agronegócio e à economia baiana.
O diretor geral da Agência, Oziel Oliveira, ressalta que o retorno da doença seria catastrófico para a Bahia e para o País, derrubando os preços da arroba do boi, do leite e das demais atividades agropecuárias, gerando desemprego, além de bloquear o comércio interno e externo, não apenas de animais e produtos de origem animal, mas também da produção agrícola do Estado. Oziel Oliveira afirma que “a Bahia teve o último foco de aftosa em 1997, e não podemos deixar que ocorra novamente. É imprescindível que todos os produtores vacinem seus bovinos e bubalinos nesta faixa etária e declare em uma das unidades da Adab, sem deixar para a última hora, o que evita também alguns transtornos nos escritórios da Agência.”
Ascom/Adab,
Agência de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB
terça-feira, 27 de outubro de 2015
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
BENCHMARKING NA PECUÁRIA
Adriana Calmon de Brito Pedreira
Msc.
em Administração Estratégica
Segundo Assen et al, 2010, benchmarking
é “a comparação sistemática dos processos e desempenhos organizacionais
baseados em indicadores predefinidos com o objetivo de detectar as possíveis
lacunas entre as melhores práticas utilizadas na concorrência e o desempenho
atual da organização para que seja possível criar novos padrões ou ainda
melhorar os processos utilizados.”
Existem na pratica três tipos de benchmarking.
São eles:
a)
Interno: Comparação de práticas e desempenho
entre áreas de uma mesma organização. Pode ser entre unidades de produção, pode
ser entre atividades ou setores. Ex: Uma empresa pode ter várias fazendas com
gestão descentralizada e desenvolver a prática de benchmarking entre as unidades. Da mesma forma, no caso de
atividades distintas, em uma mesma propriedade pode-se ter criação de bovinos e
ovinos e a organização praticar o benchmarking
entre as atividades para que haja troca das melhores práticas de manejo, por
exemplo.
Esse modelo busca em princípio
que a empresa não funcione como uma colcha de retalhos, tendo cada unidade com
práticas, técnicas e manejo muito diferenciados. Como também se busca que as
boas práticas não fiquem restritas a alguns grupos.
Esse compartilhamento permite
aos gestores de cada unidade que esteja trabalhando com práticas mais precárias
possam identificar, avaliar e estudar o que o distancia tanto desse modelo
melhor, buscando assim como alcança-lo ou identificando e justificando a
diferença em função de características locais tipo posição geográfica, clima,
relevo etc.
b) Competitivo: Comparação entre praticas utilizadas por si
com as utilizadas pelos competidores diretos. Na maioria das atividades,
conhecer as práticas dos concorrentes não é uma coisa muito fácil, afinal
espionagem industrial é crime, porém muitos dados importantes podem estar
disponíveis na impressa, em órgãos de classe ou ainda obtidos através de
clientes etc.
Na pecuária essa prática se
torna bem mais fácil, primeiro por se tratar de uma indústria fragmentada como
afirma Porter, 1976, na qual existe um número elevado de concorrentes, porém
nenhum deles exerce influência a tal ponto de dificultar ou impedir a atuação
de outros. Essa condição faz com que o seu vizinho não exerça grande influência
concorrencial a você no mercado que você atua. Se você vender uma carreta de
boi não impedira e nem criará dificuldades para ele fazer o mesmo, correto?
Portanto os concorrentes entre
si não se preocupam em desenvolver práticas sigilosas, ao contrário, na
pecuária os dias de campo, exposições e evento experimentais acontecem de forma
intensa e contínua como troca de informações, práticas de manejo, alimentação,
manutenção e implantação de pastagens.
Para os produtores, essa troca é
fundamental, necessária e produtiva.
c)
Funcional: Comparação entre indicadores de
desempenho de uma organização e de várias outras organizações independente do
ramo de negócio. Esse modelo permite uma troca de experiência entre setores
diferentes, pois como diz Correa, 2006, “ se a empresa pretende superar mais
que igualar o desempenho da concorrência, a fonte de informações para o
aprendizado não pode ser exclusivamente a concorrência, mas alguém fora do
setor. ”
Vejamos um exemplo: Se uma
propriedade está precisando melhorar a manutenção de máquinas e equipamentos
pois a rotina de limpeza, lavagem troca de óleo, revisão preventiva não esteja
atendendo às necessidades visto que os custos estão altamente elevados com
concertos, máquinas paradas e eventuais acidentes. A busca por melhores
práticas na manutenção desses equipamentos pode ser encontrada em empresas por
exemplo, de construção civil que atuam em estradas, ou abertura de loteamentos.
As fazendas poderão ter ou não
alguma prática que possa ser trocada com as construtoras, mas isso não é
condição para que a informação seja passada.
A ideia é portanto identificar não
apenas os melhores no setor, mas os melhores nessa função específica.
O benchmarking portanto, busca responder a algumas questões no
contexto da gestão organizacional. São elas:
a)
Até que ponto somos bons no que fazemos?
b) Somos
tão bons quanto os outros no que fazemos?
c)
Como
podemos fazer melhor o que fazemos?
O Benchmarking não é simples. O princípio básico da técnica é
compreender a aceitar suas fraquezas, aceitar a superioridade do outro naquele
quesito, buscar aprender e adequar as técnicas à sua realidade e nunca querer
copiar as práticas.
Diz-se portanto que benchmarking é aprendizado e não cópia!
Fontes de consulta:
ASSEM,
Marcel van. BERG, Gerben van den. PIETERSMA, Paul. Modelos de Gestão. 2ª
edição – São Paulo: Pearson Prentice Hall,2010.
CORRÊA,
Henrique L. Gestão de Serviços: lucratividade por meio de operações. 1ª
edição. São Paulo: Atlas,2006.
PORTER, M.E., Estratégia Competitiva- Técnicas para
análise da indústria e da concorrência. Rio de Janeiro, Editora Campus,1976
terça-feira, 15 de setembro de 2015
MODELO DE CRESCIMENTO DE GREINER
Adriana Calmon de Brito Pedreira
Msc.
em Administração Estratégica
Na qualidade de professora que fui até 2013, recebi alguns livros das
editoras para fazer avaliação de conteúdo, apresentação e eficácia do material
do ponto de vista didático etc. Dentre eles recebi um exemplar que na primeira
folheada, me pareceu quase que livro de auto ajuda. Logo percebi que se tratava
de um compacto com orientações rápidas sobre sessenta modelos de gestão.
Exatamente, 60!
Lendo com mais calma e atenção compreendi que um resumo básico e
rápido desses sessenta modelos (estratégicos, gerenciais e operacionais)
mostrava-se ser um material de grande importância para os gestores, pois
permitiria uma visão ampla de alternativas para melhorar o desempenho de suas
empresas.
Aqui e agora a proposta é que nos próximos dias compartilhemos alguns
modelos trazendo a teoria para a realidade da pecuária. Imagino que será
produtivo e iremos começar pelo Modelo de Crescimento de Greiner (MCG).
O MCG é um modelo estratégico de gestão e deve ser utilizado para
ajudar a identificar problemas comuns (e suas causas) em empresas que estão em
rápido desenvolvimento. Em função da velocidade no crescimento, identificar e
tornar possível antecipar os problemas antes mesmo que eles ocorram é de grande
importância.
Não é comum uma fazenda ter um crescimento veloz, porém quando
injetamos capital proveniente muitas vezes de um financiamento, as coisas de
fato acontecem rápido e é importante ter esse crescimento bem controlado, pois
em breve o prazo de carência do pagamento acaba e as prestações do
financiamento começarão a cair na conta, e se o crescimento não estiver sido
bem administrado, as coisas podem ficar bem mais difíceis.
O modelo passa por identificar seis fases comuns que as empresas
passam na situação de crescimento veloz, sabendo que em todas essas fases a
empresa passa por um período de evolução inicial, crescimento constante e
estabilidade, passando então por um período de turbulência e mudança
organizacional. A depender da forma como é resolvido o período de turbulência e
de como as mudanças foram direcionadas, a empresa passará ou não para a próxima
fase de crescimento evolutivo.
As fases identificadas por Greiner podem ser identificadas na Figura
abaixo:
Figura 1: As Fases de Crescimento de Greiner
Fonte: Modelos de Gestão, 2ªedição,2010
Essas seis fases determinam necessidades e realidades internas
diferentes, por isso elas apontam que mudanças de estilo na gestão, na
estrutura organizacional e nos mecanismos de coordenação e controle também são
diferentes em cada uma delas e portanto necessário e determinante os ajustes
para o crescimento.
As fases podem ser assim descritas:
Fase 1: Criatividade
Nessa fase a ênfase está de fato na criação de um produto e no seu
mercado. Caso já seja um produto existente, como no caso da pecuária, seria a
definição do que produzir e para quem fornecer.
Nesse momento os fundadores estão no comando, estão tecnicamente
orientados e estão concentrados no produto. Além disso desenvolvem uma
comunicação interna bem informal. O
retorno em salários ainda é modesto, mas a prosperidade é esperada.
À medida que cresce, a propriedade vai se tornando mais complexa e os
proprietários precisam dar conta da gestão, dos controles e começam a precisar
delegar funções operacionais. Quando se trata de mais de um sócio ou
proprietários surgem as primeiras crises vinculadas a liderança. É necessário
definir quem será o gestor.
Fase 2: Direção
Vencida a primeira dificuldade de ter um gestor que coloque a
organização no eixo e dê sentido de liderança e obediência, a organização
cresce e avança para a fase 2 que possui algumas características bem marcantes
tais como: estrutura organizacional que funciona efetivamente assim como a
contabilidade e a gestão de capital. Há orçamentos e padrões de trabalho assim
como a comunicação e a hierarquia apresenta maior formalidade através de uma
gestão diretiva de cima para baixo.
Conforme cresce a organização torna-se mais complexa e a alta gerência
não dá conta de toda a estrutura gerando assim uma nova crise- a crise de
autonomia. Para solucionar esse empasse a medida adotada deve ser a delegação.
Fase 3: Delegação
Nessa fase a delegação é uma realidade e a estrutura organizacional,
portanto é descentralizada. Existe também nesse contexto uma responsabilidade
operacional e mercadológica em forma de compromissos com qualidade e índices.
Também já é incorporado na empresa centros de lucros (quando há mais de uma
atividade produtiva), além de incentivos financeiros.
Nesse momento se observa um elevado crescimento. A partir daí os
proprietários já observam algum descontrole e um grau de descentralização e
autonomia excessiva, fazendo com que a organização sega sem controles e
direcionamentos efetivos.
É chegada a hora de implantar sistema de coordenação e não
necessariamente de controles.
Fase 4: Coordenação
Quando a fase da delegação é vencida, a empresa segue crescendo na
fase da coordenação, na qual há u revisão completa do planejamento formal, da
estrutura organizacional, das linhas de comando, dos processos e atividades por
cargo. Nesse contexto já se pode cobrar retorno sobre os investimentos de cada
setor e obviamente desenvolver programas motivacionais que contemplem
desenvolvimento humano.
Pode e tende porém a que estabilizada esta fase, surjam crises
vinculadas à rigidez dos processos e dos métodos gerando burocracias
desnecessárias, excesso de vigilância e as regras passam a tomar sentido de
objetivo e não de meio, ou seja a propriedade pode entrar na crise da
burocracia.
Para isso é necessário permitir maior flexibilidade e maior agilidade
nas ações e procedimentos.
Fase 5: Colaboração
Essa fase se caracteriza por uma preocupação em descentralizar a equipe
e desenvolver grupos para atividades especificas –força tarefas. Muitas
empresas adotam uma estrutura matricial, simplificando ainda mais os mecanismos
de controle, treinando melhor a equipe e desenvolvendo sistemas de informação
mais eficientes.
Aqui podem surgir problemas de crescimento interno que só se
resolverão através de alianças ou de verticalização. Não é muito comum na
pecuária de médio porte, mas muitas vezes acontece na pecuária de grande porte
ou na agricultura.
Fase 6: Alianças
As organizações tentam crescer através de fusões, alianças ou ainda criação
de holdings.
Apesar de muitas propriedades não evoluírem nesses termos ou nessa
velocidade ou ainda nesse modelo, identificar gargalos que podem existir em
cada uma das fases de crescimento e evolução de uma empresa é muito importante.
A forma de utilizar esse modelo é em primeira linha identificando em que fase a
propriedade se encontra e em que período de cada fase ela está (crescimento ou
próximo de uma crise). Depois, é observar a transição que está por vir e se
preparar para ela. Daí já existe uma indicação do que fazer para antecipar as
soluções.
Fontes de consulta:
ASSEM,
Marcel van. BERG, Gerben van den. PIETERSMA, Paul. Modelos de Gestão. 2ª
edição – São Paulo: Pearson Prentice Hall,2010.
PIRES, A.V. Bovinocultura de Corte. Piracicaba: FEALQ, 2010. 1510p.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Temple Grandin fala sobre o que está errado – e certo – na produção comercial pecuária de hoje
Uma das pessoas que mais conhece no mundo de manejo em pecuária bovina.
Temple Grandim.
Só um detalhe: Ela é autista
Leia a entrevista e entenda um pouco do comportamento dos bovinos e seu manejo.
“É fácil para mim descobrir como os animais pensam e como os animais reagiriam porque eu penso visualmente. Os animais não pensam em linguagem. Eles pensam em imagens. É muito fácil para mim imaginar como seria passar por um sistema se você realmente fosse uma vaca, e não uma pessoa vestida de vaca, mas realmente uma vaca, e os sentidos e emoções dos autistas são mais parecidos com os sentidos de um animal”, disse ela.
Veja a entrevista que Grandin a Nathanael Johnson, do site Grist.org.
Nathanael Johnson: Você acha que comer carne é correto e ético dentro de nosso sistema existente?
Temple Grandin: Nós temos que dar aos animais uma vida que valha a pena. Foi isso que o Conselho de Bem-Estar Animal Rural da Inglaterra disse. Antes de ouvir isso, eu dizia “uma vida decente”, mas eu gosto de “uma vida que valha a pena”.
NJ: E os animais confinados em operações de engorda (CAFOs); elas são tão [prejudiciais aos animais]…
TG: Essa é realmente uma generalização.
NJ: Absolutamente, vamos aprofundá-la.
TG: Você não pode simplesmente dizer CAFO é isso, qualquer coisa é isso – isso é como pintar com um pincel muito grosso. As coisas não são tão simples quando você realmente vai a campo e conhece as coisas. Comparado com os maus velhos tempos, melhorou muito e eu quero dizer drasticamente. E o manejo nas plantas de abate melhorou drasticamente.
NJ: Então, quais são as qualidades de uma operação de terminação de gados que dá aos animais uma vida boa?
TG: Manter os currais secos e manter os animais limpos – isso é realmente importante. Quando eu comecei a trabalhar com bovinos, tínhamos muitos confinamentos no Arizona, onde é muito seco. Então, os currais de engorda não ficavam lamacentos e isso fornecia um bom ambiente.
NJ: Por que é tão importante mantê-los secos? Da minha perspectiva ignorante isso parece ser um ponto relativamente menor.
TG: É a coisa mais importante no projeto de um curral de engorda. Você precisa fazer seu trabalho sujo. Você tem que ir lá com grandes equipamentos e gastar dinheiro para declivar o terreno corretamente para a drenagem. Você não consegue fazer isso direito se tiver poças de água ao seu redor. Se os bovinos estão em pé na lama, eles têm mais chances de ter claudicação e esse é um grande problema de bem-estar.
E então, é claro, como você maneja o gado, esse é um ponto importante – e isso é algo que realmente melhorou. As pessoas têm visto valor em usar métodos menos estressantes de manejo. A insensibilização e o manejo na planta de abate melhoraram muito. Eu trabalhei com o McDonald’s em 1999 e 2000 e naquela época era terrível – equipamentos de insensibilização quebrados, pessoas gritando e batendo nos animais, cutucando-os repetidamente com bastões elétricos. Agora, as coisas não são perfeitas; mas são muito, muito melhores do que eram antigamente.
NJ: Existem elementos que eu posso ver se for em uma boa operação de terminação que posso achar repulsivo, mas que não são repulsivos para um novilho?
TG: Bem, é claro, se existem muitos bovinos em um lugar, eles vão ter um cheiro. Essa é uma das coisas que realmente incomodam muitas pessoas. Já ouvi muita gente me dizer isso.
NJ: Isso incomoda os animais?
TG: Eu acho que não. Você tem que controlar a poeira. Você tem que controlar a lama.
NJ: E sobre os alimentos? Ouvi pessoas dizendo que fornecer grãos aos bovinos não é bom para eles.
TG: Bom, fornecer grãos aos bovinos é como fornecer uma dieta de bolo e biscoitos. E os animais adoram comer bolos e biscoitos doces e saborosos. Obviamente, uma mamãe vaca na fazenda não pode comer isso – porque você não pode ser saudável comendo bolo e biscoitos a vida inteira. Mas então, para um novilho em confinamento, a questão é que você vai abatê-lo antes de isso o prejudicar. Eles adoram comer isso. Eles vêm correndo quando o caminhão de comida chega. É claro, os bovinos de corte são menos confinados do que as galinhas poedeiras ou os suínos.
NJ: Certo, então talvez você deva falar sobre isso. Comece pelos frangos.
TG: Lembre-se que existem dois tipos de frangos que vivem em condições muito diferentes. Existem os frangos de corte, que vivem em galpões apenas andando pelo chão e você tem as galinhas poedeiras. E é aqui que realmente começa a controvérsia sobre as instalações. Existem coisas que os criadores de galinha poedeira precisam mudar – as gaiolas em bateria padrão onde o teto é tão baixo que a ave não pode ficar à altura do andar normal.
Há um novo tipo de projeto de gaiola em que as aves podem andar em pé normalmente. Elas têm um desejo muito forte de colocar seus ovos em um lugar isolado, de forma que a gaiola tem uma pequena caixa ninho, um poleiro e um local para elas ciscarem. Para uma operação comercial de larga escala, essa é provavelmente uma boa alternativa. Agora, se você as criar em instalações soltas sem gaiolas, você tem problemas com a poeira – é difícil manter a atmosfera boa. Existem vantagens e desvantagens nos diferentes sistemas. Eu acho que a instalação tipo colônia é o melhor caminho.
NJ: Então, existem grandes operações com gaiolas enriquecidas boas?
TG: Bem, tenho uma coisa nova para lhe dizer: grande é frágil. A recente gripe aviária matou 80% das galinhas poedeiras que produzem para o mercado de ovo líquido. Metade de todos os ovos vão para os alimentos processados e de confeitaria – são os chamados ovos líquidos. Grande é muito eficiente; não é ruim! É frágil. Quando você vê dados de pesquisas com consumidores, alimentos locais é algo que realmente as pessoas querem. E você sabe, eu acho que lá no fundo, esse é um instinto primitivo sobre segurança alimentar. O que acontece se um caminhão do Walmart parar no caminho? Você viu as greves nos portos na Costa Oeste: havia contêineres refrigerados apodrecendo nas docas. As cadeias de fornecimento de carne são muito frágeis.
NJ: Eu penso nos carros como uma analogia – temos carros agora que são muito mais rápidos e muito mais eficientes do que o Model T, mas quando eles quebram, é um problema muito maior.
TG: Grande é definitivamente eficiente. Quando funciona, é excelente! Mas é também ruim, porque é uma bagunça muito maior quando quebra.
NJ: Voltando às poedeiras – eu vejo isso com meus valores humanos e gostaria de ver as galinhas expostas à luz solar e à grama…
TG: Bem, então isso é muito mais caro. E temos 25% de pessoas nesse país trabalhando em empregos com salário mínimo e eles precisam comprar os ovos mais baratos que podem. Eu acho que ovos são uma necessidade – carne bovina você até poderia dizer que é um luxo, mas não ovos.
NJ: Do ponto de vista da galinha – é claro que não podemos saber totalmente -, mas o quão importante você acha que seria estar ao ar livre?
TG: Bem, eu acho que existem certas necessidades comportamentais que devemos satisfazer e você pode realmente, cientificamente, saber quais as coisas que uma galinha quer mais. Existem formas objetivas de medir sua motivação para obter algo que quer – como uma caixa de ninho privada. Por quanto tempo ela está disposta a ficar sem comer para conseguir isso ou qual o peso da porta que ela empurrará para conseguir isso? Quantas vezes ela vai apertar um interruptor para conseguir isso?
Um ninho privado é algo que ela quer porque, na natureza, ela tem o instinto de se esconder nos arbustos para que as raposas não peguem [seus ovos]. Dê a ela alguns pedaços de plástico pendurados que ela pode se esconder atrás. Dê-lhe um pequeno pedaço de relva sintética para colocar [seus ovos]. Dê-lhe um poleiro e um pedaço de plástico para ciscar e uma altura da gaiola pelo menos suficiente para que ela possa andar normalmente. Eu chamo isso de vida em apartamento para galinhas. Elas precisam de elementos naturais? Estar ao ar livre? A ciência não pode responder isso. Eu quero dizer, há pessoas em Nova York que raramente saem ao ar livre.
NJ: Mas você não pode usar as mesmas técnicas de medida objetivas para ver o quanto as galinhas querem sair e ciscar em busca de insetos?
TG: Bem, você pode, e a motivação é bem fraca comparado com algo como ninho, que é forte. Tomar banhos de poeira – para uma galinha, banho de poeira é bom, mas é tipo “Sim, é bom ter um quarto de hotel chique, mas o econômico funciona também”. A motivação não é tão grande.
NJ: Se passarmos para os suínos, agora a controvérsia é sobre as gaiolas de gestação.
TG: Bem, sobre gaiolas de gestação, a ciência mostra que elas funcionam bem. É isso o que a ciência mostra. Porém, esse é um grau de confinamento que dois terços do público acha inaceitável. As pessoas dizem coisas como “Eu não colocaria meu cachorro nisso”. Isso é algo que provavelmente precisa ser mudado. Isso significa que os suínos precisam ficar ao ar livre? Provavelmente, não.
Outra coisa é que todas as pesquisas que foram feitas sobre gaiolas de gestação foram feitas com jovens marrãs [fêmeas suínas que ainda não tiveram filho] em sua primeira ninhada, e elas realmente podem sentar-se [porque são pequenas]. Agora, você tem muitas fazendas onde as baias são tão pequenas que as porcas não podem nem deitar de lado e nenhuma pesquisa apoia isso.
NJ: Outra coisa que as pessoas não gostam é a separação dos bezerros leiteiros de suas mães.
TG: Isso vem sendo feito há tanto tempo, em todas as famílias produtoras de leite que já vi. Isso não é novidade. Eles faziam isso nas 12 vacas leiteiras quando eu era aluna do ensino médio.
NJ: Obviamente isso não é novidade, mas é certo?
TG: Não estou dizendo que elas não fiquem chateadas, mas as vacas Holandesas ficam menos chateadas do que as vacas de corte. Uma vaca Angus ficará muito mais chateada. Há muitas diferenças individuais, mas em média, isso é verdadeiro. O que estou mais preocupada é que temos criado essas vacas Holandesas demais para a produção leiteira. Tenho um termo que chamo de sistema biológico sobrecarregado. Quando você pressiona demais um animal – seja geneticamente ou de outra forma – você começa a ter problemas com sua biologia.
Quando você cria uma animal somente para ser produtivo, produtivo, produtivo, há sempre um preço. Nada é de graça nesse mundo. Eles estavam criando para robustez. Isso exige energia para combater doenças e para produzir carne. Eu acho que precisamos avaliar uma forma de otimizar a produção. Tem locais que eles estão colocando filtros HEPA nas janelas dos currais de suínos. Bem, eu não sei se essa é a forma ideal. Talvez eles precisem criar suínos mais fortes.
NJ: E existem questões com problemas genéticos e estruturais, certo?
TG: Oh, sim. Os frangos de corte há 10 anos tinham realmente problemas de má estrutura em suas pernas. Atualmente, eles corrigiram alguns desses problemas. Os suínos ainda têm questões estruturais que começaram no final dos anos oitenta. Se você cria somente para características de produção, não se preocupa em olhar para a estrutura das pernas para se certificar de que os animais não fiquem mancos.
NJ: Há algo que queria comentar com você, porque vi alguns ativistas da causa animal falando sobre você na internet, falando do estereótipo de que pessoas autistas são frias e não têm sentimentos. Porém, fica claro quando você escreve sobre os animais que tem uma tremenda empatia e profundo sentimentos por eles. Fiquei realmente impressionado com a passagem em que você descreveu o trabalho no mecanismo de contenção de animais para um abatedouro e que, então, chorou durante todo o caminho de volta ao aeroporto.
[Essa passagem: “Para projetar um bom sistema de contenção, você tem que realmente se preocupar com os animais que esse sistema conterá. Você precisa imaginar como seria se você fosse o animal que entra no sistema de contenção. É uma experiência muito decepcionante ser uma pessoa que se importa e ainda ter que projetar um dispositivo para abater um grande número de animais. Quando completo um projeto, fico com um sentimento de grande satisfação, mas normalmente choro durante todo o caminho ao aeroporto”].
TG: Eu chorei durante todo o caminho ao aeroporto, sim. Então, pensei em outro projeto. Eu estava em uma passarela sobre um mar de bovinos – isso no verão de 1990 – e ficando meio chateada com isso. Então, eu pensei, sabe, nenhum desses bovinos teria nascido se não os tivéssemos criado – eles nunca existiriam. Mas temos que dar a eles uma vida decente.
Além disso, com meu tipo de metabolismo, ser vegan não funcionaria. Eu acho que existem diferenças genéticas na capacidade de tolerar uma dieta vegan e eu não tenho. Minha mãe é da mesma maneira – ela precisa comer sua linguiça de manhã.
NJ: E assim, quando você avalia a média do que temos para a pecuária nos Estados Unidos, esses animais têm uma vida decente da forma como você está preocupada?
TG: Isso varia muito. Algumas pessoas fazem um trabalho melhor que outras. Eu acho que com o gado, se for bem feito, eles têm uma vida decente. Existem alguns confinamentos lamacentos que precisam ser melhorados. Acho que outra questão que precisamos ver é a questão da sombra. Estamos criando bovinos maiores, temos mais bovinos pretos, temos que começar a sombrear esses confinamentos. Manter os animais limpos é realmente importante, mas os bovinos que tenho visto estão em confinamentos secos. Eu acho que eles têm uma vida decente, sim.
NJ: Quais são os maiores problemas que precisam ser resolvidos?
TG: Bem, os suínos e as galinhas poedeiras são os mais controversos. Se você procurar na internet, os piores vídeos de ativistas – onde as pessoas estão batendo nas vacas e outras coisas – é na produção de leite. Forquilha na sala de ordenha, pessoas batendo nas vacas, só coisa ruim.
NJ: E isso pode ter alguma coisa a ver com o trabalho e as condições em que esses trabalhadores estão vivendo.
TG: Há alguns funcionários muito bons em fazendas leiteiras. Um dos problemas é que a indústria leiteira entrou em uma de criar essas vacas gigantescas que duram apenas dois anos em ordenha. Algumas fazendas leiteiras realmente progressivas estão começando a buscar vacas menores que duram três ou quatro anos em lactação, uma vaca muito menor. Eu visitei duas nessa primavera. Existem cerca de um terço de fazendas leiteiras aqui no Colorado que são realmente progressivas e realmente boas. E existe outra porcentagem que não são, que ordenharão as vacas até que estejam quase mortas e, então, as venderão. Há um certo segmento da indústria de lácteos que é simplesmente horrível. Cerca de 25% de todas as vacas leiteiras estão com claudicação e vacas claudicando estão com dor – e isso não é aceitável.
NJ: Essa é uma questão genética?
TG: Parcialmente, mas também por ficarem em pé no concreto, por doenças nos pés – existem muitas causas diferentes. Ter essas vacas gigantescas tende a tornar isso pior.
NJ: Então, existem coisas específicas que você gostaria de ver diferente? Esqueça o que os ativistas querem, esqueça sobre a opinião pública por um segundo, apenas da perspectiva do que a ciência sugere do que seria bom para os animais…
TG: As pessoas acham que “grande é ruim, pequeno é bom”. Não é assim tão simples. A questão chave é o manejo. Se você é grande ou pequeno, você tem que ter um bom manejo. Outra coisa que você não pode fazer é ter escassez de mão de obra e excesso de trabalho. Se você faz as pessoas trabalharem em excesso, elas ficarão tão cansadas e não ha como fazerem as coisas certas.
Você precisa descobrir coisas sensíveis para fazer. A coisa que me preocupa muito nessas questões é que temos mais e mais pessoas envolvidas que nunca fizeram nada prático, porque as escolas deixaram de ter culinária, marcenaria, costura e artes. E no mundo real de coisas práticas, nada pode ser perfeito. Você pode trabalhar para melhorar, mas não será perfeito.
Você precisa escolher alguma coisa específica em que trabalhar. Eu trabalhei na melhora de plantas de abate – essa é uma coisa específica. Você precisa fazer algo específico que queira para fazer mudanças construtivas, não mudanças destrutivas. Temos essa abstração, com os ativistas atacando coisas sobre as quais nem sequer sabem nada. E o setor agrícola tem respondido mal. Leis de mordaça agrícola: a coisa mais estúpida que eles poderiam ter feito. Isso apenas faz você parecer culpado. Por que eles estão aprovando leis para tornar crime filmar alguma coisa?
NJ: Isso foi realmente fascinante. Algumas últimas palavras?
TG: Temos que encontrar coisas razoáveis, práticas para fazer. Estou preocupada sobre pressionar a biologia animal demais – mesmo com genética, ou medicamentos ou o que for – e eu gosto de olhar para o bem-estar sob medidas baseadas em resultados. Primeiro de tudo, você precisa se certificar de que sua qualidade do ar é boa, de que não tenha lama, que não tenham feridas, que estejam limpos e que possam agir de acordo com suas necessidades comportamentais.
Fonte: Grist
Temple Grandim.
Só um detalhe: Ela é autista
Leia a entrevista e entenda um pouco do comportamento dos bovinos e seu manejo.
“É fácil para mim descobrir como os animais pensam e como os animais reagiriam porque eu penso visualmente. Os animais não pensam em linguagem. Eles pensam em imagens. É muito fácil para mim imaginar como seria passar por um sistema se você realmente fosse uma vaca, e não uma pessoa vestida de vaca, mas realmente uma vaca, e os sentidos e emoções dos autistas são mais parecidos com os sentidos de um animal”, disse ela.
Veja a entrevista que Grandin a Nathanael Johnson, do site Grist.org.
Nathanael Johnson: Você acha que comer carne é correto e ético dentro de nosso sistema existente?
Temple Grandin: Nós temos que dar aos animais uma vida que valha a pena. Foi isso que o Conselho de Bem-Estar Animal Rural da Inglaterra disse. Antes de ouvir isso, eu dizia “uma vida decente”, mas eu gosto de “uma vida que valha a pena”.
NJ: E os animais confinados em operações de engorda (CAFOs); elas são tão [prejudiciais aos animais]…
TG: Essa é realmente uma generalização.
NJ: Absolutamente, vamos aprofundá-la.
TG: Você não pode simplesmente dizer CAFO é isso, qualquer coisa é isso – isso é como pintar com um pincel muito grosso. As coisas não são tão simples quando você realmente vai a campo e conhece as coisas. Comparado com os maus velhos tempos, melhorou muito e eu quero dizer drasticamente. E o manejo nas plantas de abate melhorou drasticamente.
NJ: Então, quais são as qualidades de uma operação de terminação de gados que dá aos animais uma vida boa?
TG: Manter os currais secos e manter os animais limpos – isso é realmente importante. Quando eu comecei a trabalhar com bovinos, tínhamos muitos confinamentos no Arizona, onde é muito seco. Então, os currais de engorda não ficavam lamacentos e isso fornecia um bom ambiente.
NJ: Por que é tão importante mantê-los secos? Da minha perspectiva ignorante isso parece ser um ponto relativamente menor.
TG: É a coisa mais importante no projeto de um curral de engorda. Você precisa fazer seu trabalho sujo. Você tem que ir lá com grandes equipamentos e gastar dinheiro para declivar o terreno corretamente para a drenagem. Você não consegue fazer isso direito se tiver poças de água ao seu redor. Se os bovinos estão em pé na lama, eles têm mais chances de ter claudicação e esse é um grande problema de bem-estar.
E então, é claro, como você maneja o gado, esse é um ponto importante – e isso é algo que realmente melhorou. As pessoas têm visto valor em usar métodos menos estressantes de manejo. A insensibilização e o manejo na planta de abate melhoraram muito. Eu trabalhei com o McDonald’s em 1999 e 2000 e naquela época era terrível – equipamentos de insensibilização quebrados, pessoas gritando e batendo nos animais, cutucando-os repetidamente com bastões elétricos. Agora, as coisas não são perfeitas; mas são muito, muito melhores do que eram antigamente.
NJ: Existem elementos que eu posso ver se for em uma boa operação de terminação que posso achar repulsivo, mas que não são repulsivos para um novilho?
TG: Bem, é claro, se existem muitos bovinos em um lugar, eles vão ter um cheiro. Essa é uma das coisas que realmente incomodam muitas pessoas. Já ouvi muita gente me dizer isso.
NJ: Isso incomoda os animais?
TG: Eu acho que não. Você tem que controlar a poeira. Você tem que controlar a lama.
NJ: E sobre os alimentos? Ouvi pessoas dizendo que fornecer grãos aos bovinos não é bom para eles.
TG: Bom, fornecer grãos aos bovinos é como fornecer uma dieta de bolo e biscoitos. E os animais adoram comer bolos e biscoitos doces e saborosos. Obviamente, uma mamãe vaca na fazenda não pode comer isso – porque você não pode ser saudável comendo bolo e biscoitos a vida inteira. Mas então, para um novilho em confinamento, a questão é que você vai abatê-lo antes de isso o prejudicar. Eles adoram comer isso. Eles vêm correndo quando o caminhão de comida chega. É claro, os bovinos de corte são menos confinados do que as galinhas poedeiras ou os suínos.
NJ: Certo, então talvez você deva falar sobre isso. Comece pelos frangos.
TG: Lembre-se que existem dois tipos de frangos que vivem em condições muito diferentes. Existem os frangos de corte, que vivem em galpões apenas andando pelo chão e você tem as galinhas poedeiras. E é aqui que realmente começa a controvérsia sobre as instalações. Existem coisas que os criadores de galinha poedeira precisam mudar – as gaiolas em bateria padrão onde o teto é tão baixo que a ave não pode ficar à altura do andar normal.
Há um novo tipo de projeto de gaiola em que as aves podem andar em pé normalmente. Elas têm um desejo muito forte de colocar seus ovos em um lugar isolado, de forma que a gaiola tem uma pequena caixa ninho, um poleiro e um local para elas ciscarem. Para uma operação comercial de larga escala, essa é provavelmente uma boa alternativa. Agora, se você as criar em instalações soltas sem gaiolas, você tem problemas com a poeira – é difícil manter a atmosfera boa. Existem vantagens e desvantagens nos diferentes sistemas. Eu acho que a instalação tipo colônia é o melhor caminho.
NJ: Então, existem grandes operações com gaiolas enriquecidas boas?
TG: Bem, tenho uma coisa nova para lhe dizer: grande é frágil. A recente gripe aviária matou 80% das galinhas poedeiras que produzem para o mercado de ovo líquido. Metade de todos os ovos vão para os alimentos processados e de confeitaria – são os chamados ovos líquidos. Grande é muito eficiente; não é ruim! É frágil. Quando você vê dados de pesquisas com consumidores, alimentos locais é algo que realmente as pessoas querem. E você sabe, eu acho que lá no fundo, esse é um instinto primitivo sobre segurança alimentar. O que acontece se um caminhão do Walmart parar no caminho? Você viu as greves nos portos na Costa Oeste: havia contêineres refrigerados apodrecendo nas docas. As cadeias de fornecimento de carne são muito frágeis.
NJ: Eu penso nos carros como uma analogia – temos carros agora que são muito mais rápidos e muito mais eficientes do que o Model T, mas quando eles quebram, é um problema muito maior.
TG: Grande é definitivamente eficiente. Quando funciona, é excelente! Mas é também ruim, porque é uma bagunça muito maior quando quebra.
NJ: Voltando às poedeiras – eu vejo isso com meus valores humanos e gostaria de ver as galinhas expostas à luz solar e à grama…
TG: Bem, então isso é muito mais caro. E temos 25% de pessoas nesse país trabalhando em empregos com salário mínimo e eles precisam comprar os ovos mais baratos que podem. Eu acho que ovos são uma necessidade – carne bovina você até poderia dizer que é um luxo, mas não ovos.
NJ: Do ponto de vista da galinha – é claro que não podemos saber totalmente -, mas o quão importante você acha que seria estar ao ar livre?
TG: Bem, eu acho que existem certas necessidades comportamentais que devemos satisfazer e você pode realmente, cientificamente, saber quais as coisas que uma galinha quer mais. Existem formas objetivas de medir sua motivação para obter algo que quer – como uma caixa de ninho privada. Por quanto tempo ela está disposta a ficar sem comer para conseguir isso ou qual o peso da porta que ela empurrará para conseguir isso? Quantas vezes ela vai apertar um interruptor para conseguir isso?
Um ninho privado é algo que ela quer porque, na natureza, ela tem o instinto de se esconder nos arbustos para que as raposas não peguem [seus ovos]. Dê a ela alguns pedaços de plástico pendurados que ela pode se esconder atrás. Dê-lhe um pequeno pedaço de relva sintética para colocar [seus ovos]. Dê-lhe um poleiro e um pedaço de plástico para ciscar e uma altura da gaiola pelo menos suficiente para que ela possa andar normalmente. Eu chamo isso de vida em apartamento para galinhas. Elas precisam de elementos naturais? Estar ao ar livre? A ciência não pode responder isso. Eu quero dizer, há pessoas em Nova York que raramente saem ao ar livre.
NJ: Mas você não pode usar as mesmas técnicas de medida objetivas para ver o quanto as galinhas querem sair e ciscar em busca de insetos?
TG: Bem, você pode, e a motivação é bem fraca comparado com algo como ninho, que é forte. Tomar banhos de poeira – para uma galinha, banho de poeira é bom, mas é tipo “Sim, é bom ter um quarto de hotel chique, mas o econômico funciona também”. A motivação não é tão grande.
NJ: Se passarmos para os suínos, agora a controvérsia é sobre as gaiolas de gestação.
TG: Bem, sobre gaiolas de gestação, a ciência mostra que elas funcionam bem. É isso o que a ciência mostra. Porém, esse é um grau de confinamento que dois terços do público acha inaceitável. As pessoas dizem coisas como “Eu não colocaria meu cachorro nisso”. Isso é algo que provavelmente precisa ser mudado. Isso significa que os suínos precisam ficar ao ar livre? Provavelmente, não.
Outra coisa é que todas as pesquisas que foram feitas sobre gaiolas de gestação foram feitas com jovens marrãs [fêmeas suínas que ainda não tiveram filho] em sua primeira ninhada, e elas realmente podem sentar-se [porque são pequenas]. Agora, você tem muitas fazendas onde as baias são tão pequenas que as porcas não podem nem deitar de lado e nenhuma pesquisa apoia isso.
NJ: Outra coisa que as pessoas não gostam é a separação dos bezerros leiteiros de suas mães.
TG: Isso vem sendo feito há tanto tempo, em todas as famílias produtoras de leite que já vi. Isso não é novidade. Eles faziam isso nas 12 vacas leiteiras quando eu era aluna do ensino médio.
NJ: Obviamente isso não é novidade, mas é certo?
TG: Não estou dizendo que elas não fiquem chateadas, mas as vacas Holandesas ficam menos chateadas do que as vacas de corte. Uma vaca Angus ficará muito mais chateada. Há muitas diferenças individuais, mas em média, isso é verdadeiro. O que estou mais preocupada é que temos criado essas vacas Holandesas demais para a produção leiteira. Tenho um termo que chamo de sistema biológico sobrecarregado. Quando você pressiona demais um animal – seja geneticamente ou de outra forma – você começa a ter problemas com sua biologia.
Quando você cria uma animal somente para ser produtivo, produtivo, produtivo, há sempre um preço. Nada é de graça nesse mundo. Eles estavam criando para robustez. Isso exige energia para combater doenças e para produzir carne. Eu acho que precisamos avaliar uma forma de otimizar a produção. Tem locais que eles estão colocando filtros HEPA nas janelas dos currais de suínos. Bem, eu não sei se essa é a forma ideal. Talvez eles precisem criar suínos mais fortes.
NJ: E existem questões com problemas genéticos e estruturais, certo?
TG: Oh, sim. Os frangos de corte há 10 anos tinham realmente problemas de má estrutura em suas pernas. Atualmente, eles corrigiram alguns desses problemas. Os suínos ainda têm questões estruturais que começaram no final dos anos oitenta. Se você cria somente para características de produção, não se preocupa em olhar para a estrutura das pernas para se certificar de que os animais não fiquem mancos.
NJ: Há algo que queria comentar com você, porque vi alguns ativistas da causa animal falando sobre você na internet, falando do estereótipo de que pessoas autistas são frias e não têm sentimentos. Porém, fica claro quando você escreve sobre os animais que tem uma tremenda empatia e profundo sentimentos por eles. Fiquei realmente impressionado com a passagem em que você descreveu o trabalho no mecanismo de contenção de animais para um abatedouro e que, então, chorou durante todo o caminho de volta ao aeroporto.
[Essa passagem: “Para projetar um bom sistema de contenção, você tem que realmente se preocupar com os animais que esse sistema conterá. Você precisa imaginar como seria se você fosse o animal que entra no sistema de contenção. É uma experiência muito decepcionante ser uma pessoa que se importa e ainda ter que projetar um dispositivo para abater um grande número de animais. Quando completo um projeto, fico com um sentimento de grande satisfação, mas normalmente choro durante todo o caminho ao aeroporto”].
TG: Eu chorei durante todo o caminho ao aeroporto, sim. Então, pensei em outro projeto. Eu estava em uma passarela sobre um mar de bovinos – isso no verão de 1990 – e ficando meio chateada com isso. Então, eu pensei, sabe, nenhum desses bovinos teria nascido se não os tivéssemos criado – eles nunca existiriam. Mas temos que dar a eles uma vida decente.
Além disso, com meu tipo de metabolismo, ser vegan não funcionaria. Eu acho que existem diferenças genéticas na capacidade de tolerar uma dieta vegan e eu não tenho. Minha mãe é da mesma maneira – ela precisa comer sua linguiça de manhã.
NJ: E assim, quando você avalia a média do que temos para a pecuária nos Estados Unidos, esses animais têm uma vida decente da forma como você está preocupada?
TG: Isso varia muito. Algumas pessoas fazem um trabalho melhor que outras. Eu acho que com o gado, se for bem feito, eles têm uma vida decente. Existem alguns confinamentos lamacentos que precisam ser melhorados. Acho que outra questão que precisamos ver é a questão da sombra. Estamos criando bovinos maiores, temos mais bovinos pretos, temos que começar a sombrear esses confinamentos. Manter os animais limpos é realmente importante, mas os bovinos que tenho visto estão em confinamentos secos. Eu acho que eles têm uma vida decente, sim.
NJ: Quais são os maiores problemas que precisam ser resolvidos?
TG: Bem, os suínos e as galinhas poedeiras são os mais controversos. Se você procurar na internet, os piores vídeos de ativistas – onde as pessoas estão batendo nas vacas e outras coisas – é na produção de leite. Forquilha na sala de ordenha, pessoas batendo nas vacas, só coisa ruim.
NJ: E isso pode ter alguma coisa a ver com o trabalho e as condições em que esses trabalhadores estão vivendo.
TG: Há alguns funcionários muito bons em fazendas leiteiras. Um dos problemas é que a indústria leiteira entrou em uma de criar essas vacas gigantescas que duram apenas dois anos em ordenha. Algumas fazendas leiteiras realmente progressivas estão começando a buscar vacas menores que duram três ou quatro anos em lactação, uma vaca muito menor. Eu visitei duas nessa primavera. Existem cerca de um terço de fazendas leiteiras aqui no Colorado que são realmente progressivas e realmente boas. E existe outra porcentagem que não são, que ordenharão as vacas até que estejam quase mortas e, então, as venderão. Há um certo segmento da indústria de lácteos que é simplesmente horrível. Cerca de 25% de todas as vacas leiteiras estão com claudicação e vacas claudicando estão com dor – e isso não é aceitável.
NJ: Essa é uma questão genética?
TG: Parcialmente, mas também por ficarem em pé no concreto, por doenças nos pés – existem muitas causas diferentes. Ter essas vacas gigantescas tende a tornar isso pior.
NJ: Então, existem coisas específicas que você gostaria de ver diferente? Esqueça o que os ativistas querem, esqueça sobre a opinião pública por um segundo, apenas da perspectiva do que a ciência sugere do que seria bom para os animais…
TG: As pessoas acham que “grande é ruim, pequeno é bom”. Não é assim tão simples. A questão chave é o manejo. Se você é grande ou pequeno, você tem que ter um bom manejo. Outra coisa que você não pode fazer é ter escassez de mão de obra e excesso de trabalho. Se você faz as pessoas trabalharem em excesso, elas ficarão tão cansadas e não ha como fazerem as coisas certas.
Você precisa descobrir coisas sensíveis para fazer. A coisa que me preocupa muito nessas questões é que temos mais e mais pessoas envolvidas que nunca fizeram nada prático, porque as escolas deixaram de ter culinária, marcenaria, costura e artes. E no mundo real de coisas práticas, nada pode ser perfeito. Você pode trabalhar para melhorar, mas não será perfeito.
Você precisa escolher alguma coisa específica em que trabalhar. Eu trabalhei na melhora de plantas de abate – essa é uma coisa específica. Você precisa fazer algo específico que queira para fazer mudanças construtivas, não mudanças destrutivas. Temos essa abstração, com os ativistas atacando coisas sobre as quais nem sequer sabem nada. E o setor agrícola tem respondido mal. Leis de mordaça agrícola: a coisa mais estúpida que eles poderiam ter feito. Isso apenas faz você parecer culpado. Por que eles estão aprovando leis para tornar crime filmar alguma coisa?
NJ: Isso foi realmente fascinante. Algumas últimas palavras?
TG: Temos que encontrar coisas razoáveis, práticas para fazer. Estou preocupada sobre pressionar a biologia animal demais – mesmo com genética, ou medicamentos ou o que for – e eu gosto de olhar para o bem-estar sob medidas baseadas em resultados. Primeiro de tudo, você precisa se certificar de que sua qualidade do ar é boa, de que não tenha lama, que não tenham feridas, que estejam limpos e que possam agir de acordo com suas necessidades comportamentais.
Fonte: Grist
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Transcrevemos este artigo publicado no Beef Point tanto pela sua oportuna análise do mercado atual de boi gordo (cadeia da carne ) quanto pela sua clareza em demonstrar que será preciso o pecuarista ter uma visão ampla e de futuro do seu negócio para torna-lo sustentável por período mais longo.
O Fim do Peneirão? – Por André Bartocci
Um grande navio pesqueiro navega nas águas Tropicais do Atlântico. Ha vários dias os marujos pescam no sistema Peneirão com relativo sucesso. Porém em uma manhã, o chefe da pesca se dirige ao Capitão do navio e diz:
– A Peneira furou…
O Capitão pensativo, conclui como seu marujo, que terão de pescar com anzóis e varas!
Há mais de 20 anos a Indústria frigorífica se utiliza de uma criativa forma de compra de bovinos, ela compra a maior quantidade possível sem seleção e transfere toda esta variedade de cores, tamanhos e etnias para que a sala de desossa e o setor de vendas façam a mágica de transformar este desfile carnavalesco em resultado financeiro.
Com este sistema os frigoríficos amenizam dois graves problemas da cadeia da carne brasileira o primeiro é a heterogeneidade de um rebanho de 200 milhões de animais espalhados pelo nosso país-continente, o segundo é a capacidade de abate de uma Indústria que esta pronta para uma produção que somente chegará em 2020 (muito ociosa!).
Logicamente o relacionamento da indústria e do produtor no Brasil traçou uma forma diferente de outros grandes players da carne, principalmente por que aqui temos uma grande variedade de sistemas produtivos e conseqüentemente de produtos. Nos EUA, na Austrália e mesmo no Uruguai os sistemas produtivos são bem mais homogêneos. O sangue zebu do nosso bife também explica esta diversidade devido a sua grande adaptabilidade de produtos puros ou cruzados.
Devido a nossa geografia e clima distintos, temos lotes sendo criados em piquetes rotacionados de 1 ha até vacas que caminham 10 kilômetros para beber água, bois gordos que consumiram somente umidícula em toda sua vida, até sistemas onde novilhos são abatidos aos 12 meses com alto consumo de grãos todos os sistemas economicamente viáveis e produtivos.
Outro ponto diferencial do nosso rebanho é a grande quantidade de animais abatidos que vem da atividade leiteira. Devido à baixa produtividade, nosso rebanho leiteiro é muito grande (o Brasil tem uma alta relação Vaca X Litro de Leite) que automaticamente contribui todos os anos com a reposição de muitos pecuaristas de corte.
E logicamente independente da qualidade destes animais e seus sistemas produtivos, o produto final, a carne não é padronizada.
O Sistema Peneirão utilizado por 90% dos frigoríficos brasileiros consegue conviver com esta diversidade e falta de padronização. Eles resolvem esta equação extraindo do grande volume a qualidade da seguinte forma: o peso, o rendimento de carcaça e as premiações são definidos dentro da Indústria. Da mesma forma ele soluciona problemas de conformação, contusões, cisticercose, idade e resíduos debitando estes valores na fatura do Pecuarista após o abate.
O sistema também permite que a equipe de compra de um frigorífico seja composta por duas pessoas com duas linhas telefônicas e uma planilha de escala de abate. Este complexo sistema de compra consegue comercializar até 200 mil animais em um ano sem sair do escritório e sem sequer visitar qualquer de seus fornecedores, utilizando técnicas de telemarketing com frases curtas: ”Boi, R$120,00. Embarca segunda.”
Os produtores aceitaram e se adaptaram também ao Peneirão. Quando sai para comprar, o Pecuarista procura um “Bezerro Bom”. No máximo inclui alguns adjetivos como: “Quero Nelore” ou “Estou Procurando Cruzados”. Raramente se fala em genética, linhagem, frame, marmoreio, precocidade ou estado corporal. Não existe uma definição de como vai ser o produto final ou para qual mercado este animal vai ser vendido.
Também por conhecer o Peneirão, produtor de modo geral limita a qualidade dos bois fornecida para os frigoríficos, pois ele sabe que o sistema beneficia produtores que produzem um pouco abaixo da média (e conseqüentemente com custos mais baixos) e prejudica produções de alta qualidade.
Esta mesma qualidade limitada é colocada à venda nas gôndolas pelo Varejo. Em geral esta carne bovina de qualidade mediana é “pendurada” ao lado de modernos, chamativos e coloridos balcões de frangos suínos e seus derivados para que o Consumidor faça sua escolha. A Cadeia de Frango e Suíno há muitos anos abandonou o Peneirão!
O lado perverso destas características da cadeia da carne é que ela dificulta parcerias e afasta os seus elos. Perpetuando uma qualidade medíocre para a carne.
Porém em 2015 a peneira deu sinal que pode estar com problemas. A coincidência do pico do ciclo de alta do preço da arroba com uma demanda de consumo fraca do país, esta castigando duramente a Indústria e colocando o incrível sistema em cheque. Se a indústria compra pouco não tem como retirar dali tanta qualidade, da mesma forma o gado inferior comprado encarece o preço médio do dia. Além disto, a ociosidade pode ser fatal.
O processo de mudança também é estimulado por pecuaristas mais capacitados e mais produtivos que perceberam que para se manterem competitivos comparados a outros tipos de exploração agrícola, deverão agregar mais valor a cada quilo de carne produzido. Iniciativas como cooperativas verticalizadas e associações especializadas em carnes superiores começam a surgir. Este é o começo da mudança.
Talvez a cadeia precise pensar em uma forma mais eficiente de comercio, a Indústria deverá definir o que quer e o produtor deverá se alinhar a este pedido. E logicamente todos deverão respeitar e olhar mais para o Rei Consumidor. Com certeza Produtor, Indústria e Varejo deverão traçar estratégias para influenciar e fomentar o consumo.
O Novo Sistema de compra deverá se parecer menos com a pesca de rede e mais com a pesca com varas e anzóis. Ele requer pessoas mais especializadas, processos mais definidos, Produtores mais conscientes. Necessita de confiança entre os elos! Se quiserem lambaris, deverão colocar pequenas iscas, já se quiserem Jaús os equipamentos serão bem mais pesados.
Neste novo sistema o Produtor deverá definir o mercado que venderá seus bois antes de decidir que linhagem de sêmem vai comprar.
Estas mudanças, como tudo em uma Pecuária Continental-Tropical, estão ocorrendo lentamente. Parceria, Transparência e Confiança será a essência deste novo sistema.
Alguns participantes da cadeia já praticam esta nova modalidade, outros talvez precisem de novas crises e tsunamis para rebocá-los.
Por André Bartocci, pecuarista e formado em Direito. Realiza recria e engorda com Integração Lavoura e Pecuária na Fazenda Nossa Senhora das Graças, em Caarapó – MS.
– A Peneira furou…
O Capitão pensativo, conclui como seu marujo, que terão de pescar com anzóis e varas!
Há mais de 20 anos a Indústria frigorífica se utiliza de uma criativa forma de compra de bovinos, ela compra a maior quantidade possível sem seleção e transfere toda esta variedade de cores, tamanhos e etnias para que a sala de desossa e o setor de vendas façam a mágica de transformar este desfile carnavalesco em resultado financeiro.
Com este sistema os frigoríficos amenizam dois graves problemas da cadeia da carne brasileira o primeiro é a heterogeneidade de um rebanho de 200 milhões de animais espalhados pelo nosso país-continente, o segundo é a capacidade de abate de uma Indústria que esta pronta para uma produção que somente chegará em 2020 (muito ociosa!).
Logicamente o relacionamento da indústria e do produtor no Brasil traçou uma forma diferente de outros grandes players da carne, principalmente por que aqui temos uma grande variedade de sistemas produtivos e conseqüentemente de produtos. Nos EUA, na Austrália e mesmo no Uruguai os sistemas produtivos são bem mais homogêneos. O sangue zebu do nosso bife também explica esta diversidade devido a sua grande adaptabilidade de produtos puros ou cruzados.
Devido a nossa geografia e clima distintos, temos lotes sendo criados em piquetes rotacionados de 1 ha até vacas que caminham 10 kilômetros para beber água, bois gordos que consumiram somente umidícula em toda sua vida, até sistemas onde novilhos são abatidos aos 12 meses com alto consumo de grãos todos os sistemas economicamente viáveis e produtivos.
Outro ponto diferencial do nosso rebanho é a grande quantidade de animais abatidos que vem da atividade leiteira. Devido à baixa produtividade, nosso rebanho leiteiro é muito grande (o Brasil tem uma alta relação Vaca X Litro de Leite) que automaticamente contribui todos os anos com a reposição de muitos pecuaristas de corte.
E logicamente independente da qualidade destes animais e seus sistemas produtivos, o produto final, a carne não é padronizada.
O Sistema Peneirão utilizado por 90% dos frigoríficos brasileiros consegue conviver com esta diversidade e falta de padronização. Eles resolvem esta equação extraindo do grande volume a qualidade da seguinte forma: o peso, o rendimento de carcaça e as premiações são definidos dentro da Indústria. Da mesma forma ele soluciona problemas de conformação, contusões, cisticercose, idade e resíduos debitando estes valores na fatura do Pecuarista após o abate.
O sistema também permite que a equipe de compra de um frigorífico seja composta por duas pessoas com duas linhas telefônicas e uma planilha de escala de abate. Este complexo sistema de compra consegue comercializar até 200 mil animais em um ano sem sair do escritório e sem sequer visitar qualquer de seus fornecedores, utilizando técnicas de telemarketing com frases curtas: ”Boi, R$120,00. Embarca segunda.”
Os produtores aceitaram e se adaptaram também ao Peneirão. Quando sai para comprar, o Pecuarista procura um “Bezerro Bom”. No máximo inclui alguns adjetivos como: “Quero Nelore” ou “Estou Procurando Cruzados”. Raramente se fala em genética, linhagem, frame, marmoreio, precocidade ou estado corporal. Não existe uma definição de como vai ser o produto final ou para qual mercado este animal vai ser vendido.
Também por conhecer o Peneirão, produtor de modo geral limita a qualidade dos bois fornecida para os frigoríficos, pois ele sabe que o sistema beneficia produtores que produzem um pouco abaixo da média (e conseqüentemente com custos mais baixos) e prejudica produções de alta qualidade.
Esta mesma qualidade limitada é colocada à venda nas gôndolas pelo Varejo. Em geral esta carne bovina de qualidade mediana é “pendurada” ao lado de modernos, chamativos e coloridos balcões de frangos suínos e seus derivados para que o Consumidor faça sua escolha. A Cadeia de Frango e Suíno há muitos anos abandonou o Peneirão!
O lado perverso destas características da cadeia da carne é que ela dificulta parcerias e afasta os seus elos. Perpetuando uma qualidade medíocre para a carne.
Porém em 2015 a peneira deu sinal que pode estar com problemas. A coincidência do pico do ciclo de alta do preço da arroba com uma demanda de consumo fraca do país, esta castigando duramente a Indústria e colocando o incrível sistema em cheque. Se a indústria compra pouco não tem como retirar dali tanta qualidade, da mesma forma o gado inferior comprado encarece o preço médio do dia. Além disto, a ociosidade pode ser fatal.
O processo de mudança também é estimulado por pecuaristas mais capacitados e mais produtivos que perceberam que para se manterem competitivos comparados a outros tipos de exploração agrícola, deverão agregar mais valor a cada quilo de carne produzido. Iniciativas como cooperativas verticalizadas e associações especializadas em carnes superiores começam a surgir. Este é o começo da mudança.
Talvez a cadeia precise pensar em uma forma mais eficiente de comercio, a Indústria deverá definir o que quer e o produtor deverá se alinhar a este pedido. E logicamente todos deverão respeitar e olhar mais para o Rei Consumidor. Com certeza Produtor, Indústria e Varejo deverão traçar estratégias para influenciar e fomentar o consumo.
O Novo Sistema de compra deverá se parecer menos com a pesca de rede e mais com a pesca com varas e anzóis. Ele requer pessoas mais especializadas, processos mais definidos, Produtores mais conscientes. Necessita de confiança entre os elos! Se quiserem lambaris, deverão colocar pequenas iscas, já se quiserem Jaús os equipamentos serão bem mais pesados.
Neste novo sistema o Produtor deverá definir o mercado que venderá seus bois antes de decidir que linhagem de sêmem vai comprar.
Estas mudanças, como tudo em uma Pecuária Continental-Tropical, estão ocorrendo lentamente. Parceria, Transparência e Confiança será a essência deste novo sistema.
Alguns participantes da cadeia já praticam esta nova modalidade, outros talvez precisem de novas crises e tsunamis para rebocá-los.
Por André Bartocci, pecuarista e formado em Direito. Realiza recria e engorda com Integração Lavoura e Pecuária na Fazenda Nossa Senhora das Graças, em Caarapó – MS.
GESTÃO DE PESSOAS NA AGROPECUÁRIA
Adriana Calmon de Brito Pedreira
Msc.
em Administração Estratégica
Muitos empresários da pecuária não consideram as pessoas como parte
dos recursos de produção, mas o fato é que elas são elemento substancial no
exercício da produção de bovinos com qualquer finalidade. A gestão de pessoas
portanto, torna-se prática essencial na condução dos negócios, tanto para
racionalizar cargos e funções como para promover o suprimento de pessoas
capacitadas, motivadas e com desempenho satisfatório de acordo com as demandas
da propriedade.
Deve-se entender desde já que a área de recursos humanos, ou de gestão
de pessoas é aquela que se preocupa com a equipe dentro e fora do ambiente de trabalho.
Também tem a função de atrair pessoal qualificado que possa desempenhar bem as suas
funções promovendo ao negócio os resultados almejados.
Nas últimas décadas, o perfil da pecuária vem mudando
substancialmente, desde a introdução de novas tecnologias de produção, de novas
práticas gerenciais por uma busca constante pela qualidade e pela produtividade
com foco nas demandas do mercado. Todos esses fatores levam a uma necessidade
de se gerir pessoas de uma forma mais profissional.
Uma forma profissional de lidar com as pessoas envolve duas grandes
premissas: 1) atrair e reter profissionais qualificados para o exercício das
atividades necessárias na empresa; 2) atender as exigências da Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT) e das demais regulamentações específicas da categoria.
No que tange à primeira premissa, a valorização do indivíduo ganha um
caráter essencial e elementar para que tanto a empresa possa escolhe-lo assim
como ele também possa escolher a empresa que gosta de trabalhar e para qual
dedicará seus esforços.
Programas de remuneração variável por exemplo, permitem privilegiar o
desempenho das pessoas através das suas competências e seu desenvolvimento
estabelecendo um critério único e pré determinado de julgamento.
Nesse sentido Amorim, 2010 apud Ruas 2001 determina que os recursos
que envolvem a competência são três saberes: o saber conhecimento, o saber
fazer e as habilidades, e o saber agir e as atitudes. “ Ou seja, o indivíduo
que trabalha na agropecuária precisa conhecer o ambiente em que ele está
inserido, para saber discernir entre proceder e atuar. ” Amorim 2010
Não só isso, mas é importante também que os colaboradores ou
empregados tenham consciência e percepção de aspectos implícitos das situações adversas
e ter atributos pessoais que permitam agir, comprometer-se e relacionar-se de
forma adequada com as atividades que exercem, conforme afiram Chiavenato, 2001.
Porém não só de exigências e características essenciais do empregado a
relação se estabelece. É importante que a gestão de pessoas cumpra suas funções
de forma adequada a começar pela escolha das pessoas que irão trabalhar na
empresa. Essa função de recrutar e selecionar é a base de toda a relação
futura, pois escolher bem o indivíduo que se adeque às exigências e
características das atividades que vai exercer é ponto de partida para o
estabelecimento de uma relação saudável e duradoura entre as partes. Motivar os
funcionários da casa a crescerem e desempenharem funções mais qualificadas é
uma prática que deve ser desenvolvida e praticada, pois facilita a seleção e motiva
os funcionários a progredir. Isso não quer dizer que injetar “sangue novo” na
empresa também não tenha seu valor e suas vantagens. O importante é saber dosar
as duas práticas e tirar proveito de cada uma delas.
Outra importante função da gestão de pessoas é a remuneração da
equipe. Na pecuária é fundamental conhecer o mercado e quanto os vizinhos estão
pagando aos funcionários com mesma função para que não se corra o risco de
perder o funcionário por salário defasado, como também de inflacionar o mercado
e aumentar os custos fixos de produção sem necessidade.
Ainda sobre remuneração é importante compreender que plano de cargos e
salários em propriedades com volume elevado de cargos e atividades
diferenciadas é fundamental como elemento motivacional. Com similar importância
deve-se observar os benefícios oferecidos, além daqueles obrigatórios (13°
salário, adicional de férias, vale transporte etc.), que podem ser vinculados à
qualidade de vida e saúde tais como assistência médica, odontológica, cesta básica
etc.
A avaliação do desempenho é mais uma ação importante da função de
gestão de pessoas. Oferecer o feefback do
trabalho desenvolvido aos funcionários de forma contínua e clara, indicando
pontos fortes e pontos fracos mantem as pessoas motivadas e comprometidas além
de permitir oferecer um benefício a mais que é a remuneração variável e
adicional por desempenho. É muito importante ressaltar que os feedbacks positivos podem e devem ser
dados a qualquer momento, porém os negativos devem ser dados com cuidado e de
forma reservada para que surtam efeito construtivo e não corretivo.
Portanto, lidar com pessoas e principalmente gerenciá-las é uma tarefa
difícil, diária e de certa forma árdua. A busca por pessoas competentes não se
encerra em si, mas na manutenção delas motivadas, atuantes e produtivas na
organização afinal para se destacar em inovações, vantagem competitiva, as
organizações precisam encontrar as melhores maneira de investir em pessoas,
responsáveis em última instancia pelo desenvolvimento de soluções
diferenciadas..
Fontes de consulta:
CALLADO,
A.A.C. Agronegócio/Antônio André Cunha Callado (organizador). 3edição –
São Paulo:Atlas,2011
Assinar:
Postagens (Atom)