quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS NA PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA. Parte 1


No século XXI, os produtos oriundos da agropecuária tiveram uma participação diferenciada no percentual do gasto realizado pelas famílias. Isso não significa que a população esteja comendo menos ou pior (ao menos pela ótica econômica), mas que os preços agrícolas não aumentaram tanto quanto os preços de outros componentes da despesa fixa das famílias. Habitação, saúde, transporte, lazer e outros itens tiveram aumento representativo e acima da inflação.
Essa mudança, ou melhor, essa perda de valor, ou essa elevação abaixo da inflação ou ainda a diminuição dos preços em muitos casos, são sentidas pelos produtores quando eles percebem que a conta está difícil de fechar com saldo positivo.

A luz no fim do túnel chama-se competitividade. Palavra mágica? Não, mas um conjunto de análises, ações, decisões e processos que poderão ajudar a trilhar novos caminhos. Competitividade é a capacidade ou a potencialidade que as empresas têm em ter êxito ou sucesso diferenciado em relação aos concorrentes.
Obter êxito superior aos concorrentes porém, não deve ser necessariamente o foco do produtor rural no momento, visto que a pecuária, de forma mais específica, segundo Porter(1991) é uma indústria fragmentada. O foco deve ser superar-se!
Esclarecendo sobre a indústria fragmentada, para que possamos seguir adiante, entende-se como um setor onde o volume de participantes é elevado, mas que nenhum desses participantes detém parcela significativa do mercado capaz de interferir no composto ou no comportamento da indústria, assim como não há fidelidade dos clientes em relação aos fornecedores, já que o produto não tem diferenciação (a produção agropecuária é commodity), os custos de transporte são elevados e em muitos casos não há vantagem de tamanho na relação com fornecedores. Além de ter preços ditados pelo mercado.

Pois bem, se o produtor tem problemas com preço final da sua produção, sofre influência dos altos preços dos insumos, serviços e matéria prima, se seu produto não tem diferenciação, não se beneficiam da fidelidade de clientes e ainda não são capazes de influenciar o setor, será que estão num negócio de louco?
Nem tanto. O contexto do ambiente no passado permitia lucrar e sobreviver numa condição de inércia e amadorismo, agora temos um negócio como outro qualquer e precisamos ser competitivos, buscar superação, melhorar as performances produtivas, comerciais e consequentemente financeiras, tornar o setor como um todo mais competitivo e não só a unidade produtiva. Isso pode ser possível através da reversão de algumas dessas situações.

A competitividade de determinada região, ou de determinado setor numa região está na dependência da competitividade das suas empresas, é fundamental que estas elaborem estratégias concorrenciais que permitam, ao longo do tempo, determinar uma posição sustentável no mercado” (Coutinho e Ferraz, 1994). Dessa forma cuidar da nossa empresa rural e transformá-la numa fazenda competitiva contribuirá a médio prazo para uma maior competitividade do setor como um todo naquela região.

O “Papa” do estudo da estratégia, Igor Ansoff afirmou em 1981 que as empresas se relacionam com o ambiente de duas formas: a primeira por um comportamento operacional competitivo quando ela busca obter lucro do ambiente ao produzir de maneira mais eficiente, garantir um segmento de mercado e conseguir melhores preços. A segunda forma de relacionamento é estratégica, através da qual a firma procura melhorar ou substituir seus produtos por outros mais adequados ao mercado, encontrar novos mercados e novos clientes em busca de potencial de lucros futuros. Tudo isso depende da capacidade da empresa de identificar novas demandas, desenvolver novos produtos e adotar novas técnicas de produção e marketing.

De forma mais prática Porter,1985 traz um modelo que permite contextualizar a organização dentro do sistema ou do ambiente competitivo de forma a desenvolver essa performance estratégica. Ele sugere cinco elementos que interferem de forma decisiva na intensidade da concorrência assim como na capacidade de ser rentável. São eles: a) rivalidade entre empresas do setor, b) ameaça de novos concorrentes, c) ameaça de produtos substitutos, d) poder de negociação de clientes e por fim e) poder de negociação dos fornecedores.

Rivalidade entre empresas do setor:
A rivalidade é expressa pela tentativa das empresas em melhorarem seu desempenho, ou sua posição no setor. A intensidade dessa rivalidade, pontua a favor ou contra um melhor desempenho e é expressa por alguns fatores tais como:

·         Concorrentes numerosos: Quanto maior o número de firmas atuantes no setor e em tamanhos equivalentes, mais instável ele é. No caso da pecuária de corte, já foi mencionado que essa situação é característica do setor, porém esse fator ainda não dificulta a ascensão de uma firma isoladamente ao ponto de diminuir as possibilidades de rentabilidade diferenciada.

·         Ausência de diferenciação ou baixo custo de mudança: o produto carne é uma commodity, não existe diferenciação o que permite ao consumidor trocar a qualquer momento de fornecedor, sendo esse fator um contraponto à rentabilidade. Diferenciar seu produto pode ser um caminho.

·         Custos fixos elevados: Se as organizações do setor possuem elevados custos fixos, essa rivalidade é acirrada pois elas precisam aumentar a produção para equilibrar esses custos o que pode gerar um excedente na oferta. No caso da produção pecuária aumentar a produtividade para diluir os custos fixos e alcançar custos unitários menores é uma alternativa certeira. O aumento na oferta não trará, no médio prazo, excedente no mercado, portanto a alternativa diminui a intensidade da rivalidade.

·         Elevadas barreiras à saída: São fatores que fazem a organização continuar operando mesmo com rentabilidade baixa ou retorno de capital investido negativo. Exemplo desses fatores: custo elevado de saída do negócio (passivos trabalhistas, manutenção de recursos produtivos), inter-relações estratégicas (vínculos entre empresas do mesmo grupo), barreiras emocionais (vínculo familiar, vínculo com empregados, orgulho).Se essas barreiras existem deve-se portanto buscar que o negócio funcione, diminuindo tamanho, revendo os modelos produtivos, os ciclos de produção, as estratégias de comercialização etc.
Ameaça de novos concorrentes:

A entrada de novas empresas no setor sempre gera um aumento de produção e de oferta do produto. Esse aumento traz consequências para o setor pois com o excesso de oferta há uma forte tendência a ocorrer diminuição de preço e por consequência de rentabilidade. Isso já sabemos, assim como que a entrada de novos produtores de carne tende a não trazer fortes influências no mercado.
Tende a não trazer? Sim, tende, pois a atividade oferece barreiras que dificultam a entrada de novos pecuaristas tais como:

·         Custo elevado para entrar no negócio - comprar uma fazenda e dar-lhe condição de produzir exige capital elevado.

·         Longo período de produção - o giro na produção de carne é longo, a receita demora a acontecer, o que depende de um capital de giro mais robusto.

·         Acesso a canais de distribuição – conhecer fornecedores tanto no setor a montante quanto no a jusante é fundamental para o desenvolvimento e funcionamento operacional da fazenda.

·         Curva de aprendizagem - o exercício da atividade por longo período oferece uma experiência ao produtor que pode ser imensurável do ponto de vista da vantagem em relação a um novo produtor. Esse fator muitas vezes impede o propenso novo entrante a seguir nesse mercado.

·         Preço de mercado – se o preço do produto no mercado for baixo e a demanda não for expansiva, em função dos altos investimentos o novo entrante tende a perder o interesse pelo negócio.
Vale ressaltar que se esse novo entrante for grande, capitalizado, articulado estrategicamente de forma a ter uma rotatividade maior, uma relação comercial eficiente, custos unitários reduzidos etc, ele poderá abrigar uma quantidade representativa do fornecimento de carne local e de fato representar uma ameaça aos instalados.


Adriana Calmon de Brito Pedreira
Msc. em Administração Estratégica
Obs: A parte 2 deste artigo será publicada em futura postagem
 

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