Na família Fortes já são quatro gerações trabalhando na produção de leite. A propriedade do interior de São Paulo começou com o bisavô de Thiers Fortes, passou para o avô, pai e agora ele e o irmão tocam as atividades. Quando assumiram a propriedade, acreditavam que nunca iam trabalhar em outra atividade. Mas agora já começam a pensar em deixar a produção leiteira.
Um dos maiores problemas está na importação de leite. Há muitos anos se fala da entrada de produto importado, mas, segundo o produtor, esse cenário vem ficando ainda pior nos últimos anos. Os produtos estrangeiros chegam para as fábricas brasileiras com valor inferior, por conta de impostos e também de exigências sanitárias brasileiras que não são impostas lá fora. Com produtos mais baratos na indústria nacional, a remuneração para os produtores fica prejudicada.
- O governo deveria dar mais atenção para nós. A gente está precisando de medida de contenção a essa importação com urgência, porque senão o setor deve parar. O produtor de leite vai parar de tirar leite - diz Thiers Fortes.Outro problema está no custo de produção. Os preços da soja e do milho subiram. Somando isso com a mão de obra, a alta chega a 40%. Mas o preço recebido pelo leite continua o mesmo do ano passado, entre R$ 0,90 e R$ 0,93 por litro.
- Não tem como dar soja e milho para a vaca, a gente não sabe mais como fazer para reduzir custos - fala Thiers Fortes.
No Vale do Paraíba, os produtores já trocaram soja e milho por polpa cítrica e também cevada. A redução é de 40% nos custos de R$ 10 ao dia por animal para apenas R$ 6. O problema é que também há redução na quantidade de produção de leite.
- O leite, baixo do jeito que está, e com os custos altos, a gente tem que tirar de alguém e infelizmente a gente tira dos animais. Não é o certo, mas é o que nós temos que fazer. Nós estamos nutrindo um pouco menos os animais, causa que vai gerar problema para a gente. Esses animais terão a taxa de concepção baixa e ano que vem não vão produzir na época certa com o pico de lactação que é necessário. Os pastos continuam lotados com os animais, mas não tem a produção necessária - lamenta o produtor rural Marcelo Medeiros.
A redução é de 20% na produção de cada vaca. Mas a situação não pode continuar assim, por isso os produtores da região já estão planejando protestos públicos em rodovias federais para chamar atenção do governo e da sociedade perante a situação.
- O governo tem que olhar pra nós, porque o produtor não está resistindo. Ele não vai conseguir tocar a propriedade. Se continuar dessa forma ele não tem mais quatro ou cinco meses de vida - diz Medeiros.
Segundo o presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez, a crise no setor leiteiro chegou em um momento crucial. Ele defende um posicionamento definitivo.
- Vai ter que aumentar o preço ao produtor para ele conseguir sobreviver. E isso tem reflexo sim no preço final. Não há outra alternativa, senão nós vamos ter que importar leite de fora ao invés de gerar emprego aqui no Brasil. Nós vamos gerar no Mercosul ou em outros países - declara Jorge Rubez.
Fonte: O Leite 06/11/2012
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