Em dez anos, a União Europeia saiu da posição de principal mercado para a carne bovina brasileira para um posto mais modesto, apenas o terceiro lugar. Nesse período, a emergente Rússia, que nem aparecia no ranking dos principais mercados tornou-se a primeira compradora de carne bovina do país sem considerar a região do Oriente Médio e Norte da África. O saldo dessa mudança é negativo: o país perdeu um mercado de preços mais altos e cortes mais nobres e avançou num mais instável e que demanda produtos de menor valor.
No já longínquo ano 2000, o Brasil exportou US$ 511 milhões em carne bovina para a União Europeia, uma fatia de 61% das exportações totais daquele ano, de US$ 837,2 milhões. No último ano, a participação foi bem menor, apesar do valor ter crescido: US$ 712 milhões, ou 14,5% de um total de US$ 4,886 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec).
A derrocada das vendas para a União Europeia começou em 2008, quando o bloco determinou que compraria carne bovina apenas proveniente de animais rastreados de uma lista restrita de fazendas do Brasil. Na época, havia 15,5 mil fazendas aptas a fornecer animais. Com as restrições, caiu a 2,2 mil atualmente o número de propriedades habilitadas, segundo Antônio Camardelli, presidente da Abiec.
Para ele, ao restringir as fazendas a UE criou um mecanismo para reduzir os volumes exportados pelo Brasil, numa tentativa de atender ao clamor de produtores locais. Segundo a Abiec, o bloco comprou 125,3 mil toneladas de carne bovina do Brasil no ano passado, bem abaixo das 308,4 mil toneladas de 2007, antes das restrições. "O Brasil depende da União Europeia porque não tem alternativa [de mercados] para vender aos preços que a UE paga", admite Camardelli. Segundo ele, os mesmos cortes que a UE compra têm preços 50% inferiores em mercados do Oriente Médio, por exemplo.
Reportagem do Jornal Valor adaptada pela Equipe Gepecorte.
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